terça-feira, 9 de outubro de 2012

Trabalho apresentado como requisito para conclusão do módulo A (Referenciais de qualidade na educação superior a distância; Fundamentos políticas e legislação em EaD; EaD no Brasil e no mundo), da Pós Graduação em Metodologias para a Educação a Distância.

I – Introdução
O referente trabalho tem como objetivo apresentar alguns pontos relevantes para o sucesso da Educação a Distância, como uma das modalidades de ensino, formadora de profissionais capacitados para a atuação no mercado de trabalho. É uma pesquisa de cunho bibliográfico, com trajetória reflexiva. A fundamentação teórica apresentada promove o seguimento da visão crítica – reflexiva.
A expansão da Educação a Distância no Brasil vem crescendo muito nos últimos anos e, a presença de um novo perfil de aluno, profissionais e tecnológicas é uma cobrança para a evolução e sucesso na modalidade de ensino EAD.
            Uma das grandes vantagens de quem opta pela modalidade a distância de ensino é poder administrar o tempo e a realização das tarefas pelos alunos em período propício. Assim, o presente trabalho tem como objetivo, apresentar alguns pontos relevantes para o sucesso da Educação a Distância como uma das modalidades de ensino, formadora de futuros profissionais devidamente capacitados.

II - A expansão da Educação a Distância no ensino brasileiro

O Censo referente à Educação Superior no Brasil, apresentado pelo MEC - Ministério de Educação e Cultura, 2010, revela um crescimento de 110% no número de matrículas referentes aos últimos dez anos, ocorrendo, sobretudo nos seguimentos da: graduação, pós-graduação (principalmente na especialização) e, empresas denominadas: mercado corporativo com a implantação de cursos livres, em cursos de capacitação, além dos cursos presenciais, já oferecidos por diversos institutos, seja: provada e ou pública. A educação e o ensino brasileiro vêm disponibilizando condições demais acesso da população em geral, ao ensino educacional, nas mais variadas modalidades. A essa possibilidade de oferta, podemos denominar: Democratização do Ensino.
As aspirações educacionais, despertadas na população com ideologia democratizante às quais não correspondia uma estrutura de ensino verdadeiramente aberta e democrática, levaram a um congestionamento na entrada às universidades (SAVIANI,Dermeval,2000,p.86).

            Com a gama de oferta da Educação e Ensino no Brasil, a EAD - Educação a Distância é uma das opções, estando ela amparada pela Lei Federal da constituição Brasileira e a Lei de Diretrizes e Bases, 93/94 de 1996. Na modalidade de ensino a distância, o aluno desenvolve implicitamente, competências importantes para o aprendizado: autonomia intelectual, na busca da informação adequada, ao realizar pesquisas, a capacidade de síntese, ao resumir o conteúdo estudado, disciplina, sendo necessárias para atingir os fins e, também de autonomia e auto-gestão.
Essa modalidade de ensino requer um perfil emergente de aluno e novas formas de se relacionar com o conhecimento. Em cursos online, o aluno necessita atuar como buscador de seu desenvolvimento. Segundo Pereira (2008), citada por Thomé (2011):
Isso significa tomar para si a responsabilidade por cumprir com a agenda de estudos e de atividades, sem delegar esse papel. Um curso online requer perfis autônomos o que pode fazer com que alguns se resistam pela falta das figuras que cobram prazos e dizem o que deve ser feito (p.10).

            A mediação pedagógica também é uma das condições para o sucesso do ensino aprendizado, tanto do aluno como da instituição que oferta o curso em EAD. Segundo Masetto (2000), mediação pedagógica é a atitude, o comportamento do professor que se coloca como um facilitador, incentivador ou motivador da aprendizagem, que se apresenta com a disposição de ser uma ponte entre o aprendiz e sua aprendizagem, sendo a autoavaliação, outra condição importantíssima de feedback que para  Haidt (2001), a avaliação não tem um fim em si mesma, mas um meio a ser utilizado por alunos e professores para o aperfeiçoamento do processo ensino aprendizagem. Assim, a autoavaliação direciona-se para contribuir em: reflexão – ação - reflexão da ação de todos os indivíduos envolvidos.

III – O PANORAMA DA EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA NO BRASIL

            Segundo documentos analisados no site do MEC e textos ofertados pela disciplina de Fundamentos, Políticas e Legislação em Educação a Distância, está pode ser definida como um processo de ensino-aprendizagem mediado por tecnologias de informação e comunicação (TIC´s). Tal processo envolve geralmente, professores e alunos, embora separados pelo espaço e tempo, estão juntos virtualmente por meio das tecnologias, em especial a internet.
Outros meios de comunicação, tais como o correio, o rádio, a televisão, o vídeo, o CD-ROM, o telefone, o fax e tecnologias semelhantes também podem ser utilizados. A definição das tecnologias para um projeto de EAD deve considerar o público alvo que será atendido e a facilidade de acesso às tecnologias existentes.
Não é de hoje que a Educação a Distância vem sendo difundida no Brasil. Em termos legais está amparada nas determinações específicas da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira - LDB, 9.394/96, nos termos dos arts. 8o, 9o, 10 e 11, nos quais, se apresenta a padronização de normas e procedimentos nacionais para os ritos regulatórios, além de servir de base de reflexão para a elaboração de referenciais específicos para os demais níveis educacionais que podem ser ofertados a distância. No Decreto 5.622, de 20 de dezembro de 2005, Decreto 5.773 de junho de 2006 e das portarias normativas 1  e 2 de 11 de janeiro de 2007. Além desses termos legais, existe os Referenciais de Qualidade que  embora não seja um documento de teor legal, orienta e proporciona reflexões sobre o planejamento, a organização e as ações  de modalidade de educação superior a distância .

Elaborado a partir de discussão com especialistas do setor, com as universidades e com a sociedade, ele tem como preocupação central apresentar um conjunto de definições e conceitos de modo a, de um lado, garantir qualidade nos processos de educação a distância e, de outro, coibir tanto a precarização da educação superior, verificada em alguns modelos de oferta de EAD, quanto a sua oferta indiscriminada e sem garantias das condições básicas para o desenvolvimento de cursos com qualidade (MEC/Referenciais de Qualidade em EAD,2007,p.2).

No Plano Nacional de Ensino - PNE de 2001 pode-se encontrar a intenção de capacitar em cinco anos, pelo menos, quinhentos mil  professores para a utilização plena da TV Escola e de outras redes de programação educacional. Ainda neste contexto, estabelece como meta, em seus dez anos de duração, a instalação de dois mil núcleos de tecnologia educacional, visando nos próximos cinco anos à aquisição de quinhentos mil computadores para serem instalados em trinta mil escolas de ensino fundamental e médio com condições à internet.
A Educação a distância para contribuir com a profissionalização docente, não se atem somente a intenção da capacitação à informática, mas, se estende a toda educação inicial e  continuada na área educacional.
A formação de profissionais, principalmente de professores na modalidade à distância vem crescendo exponencialmente no Brasil, sendo um dos caminhos para a democratização do acesso ao ensino superior. Porém, deve-se atentar a qualidade de formação do profissional não somente na modalidade presencial como na modalidade à distância.
A educação a distância, nos últimos anos, ganhou maior visibilidade e aceitação social, tendo em vista, também, o impulso da legislação educacional no país a partir da segunda metade da década de 1990. Ou seja, na LDB 9394/96, art. 87 institui a década da Educação -1997/2007 e, de acordo com o parágrafo 4º determina que “até o fim da Década da Educação somente serão admitidos professores habilitados em nível superior ou formados por treinamento em serviço”. Para tanto, o inciso III, do parágrafo 3° desde mesmo artigo, afirma que cada município, o estado e a união deverão “realizar programas de formação e capacitação para todos os professores em exercício, utilizando também, para isto, os recursos da educação à distância”.
Desse modo, tal fato contribui para o aceleramento substancial do interesse pelos cursos de nível superior, nesse contexto, a oferta de educação a distância vem a atender a muitos desses anseios. Na LDB 9394/96, a Educação a Distância é entendida enquanto uma das modalidades do ensino (art. 80), e o Decreto no. 5.622/2005, que regulamenta o art. 80 da LDB
Para tal consolidação a educação a distância está amparada pelo Decreto N 2.494, da Lei 10 de Fevereiro de 1998, regulamentando o art.80 da Lei n 9394, de 20 de dezembro de 1996, e dá outras providências.
Veja-se:
Art. 1 - Educação a distância é uma forma de ensino que possibilita a auto-aprendizagem, apresentados a mediação de recursos didáticos sistematicamente organizados, apresentados em diferentes suportes de informação, utilizados isoladamente ou combinados, e veiculados pelos diversos meios de comunicação.
Parágrafo único. Os cursos ministrados sob forma de educação a distância serão organizados em regime especial, com flexibilidade de requisitos para admissão, horário e duração, sem prejuízo, quando for o caso, dos objetivos e das diretrizes curriculares fixadas nacionalmente.
Art. 2- Os cursos a distância que conferem certificado ou diploma de conclusão do ensino fundamental para jovens e adultos, do ensino médio, da educação profissional, e de graduação, serão oferecidos por instituições públicas ou privados especificamente credenciados para esse fim, nos termos deste Decreto e conforme exigências a serem estabelecidas em ato próprio, expedido pelo Ministro de Estado da Educação e do Desporto.
§ 1. A oferta de programas de mestrado e de doutorado na modalidade a distância será objeto de regulamentação específica.

O Sistema UAB- Universidade Aberta do Brasil foi instituído pelo Decreto 5.800, de 8 de junho de 2006, para "o desenvolvimento da modalidade de educação a distância, com a finalidade de expandir e interiorizar a oferta de cursos e programas de educação superior em todo País". Fomenta a modalidade de educação a distância nas instituições públicas de ensino superior, bem como apóia pesquisas em metodologias inovadoras de ensino superior respaldadas em tecnologias de informação e comunicação. Assim segundo, o decreto n 5.800 de 8 de junho de 2006, dispõe sobre a responsabilidade e objetivos:

Art. 1o  Fica instituído o Sistema Universidade Aberta do Brasil - UAB, voltado para o desenvolvimento da modalidade de educação a distância, com a finalidade de expandir e interiorizar a oferta de cursos e programas de educação superior no País. Parágrafo único.  São objetivos do Sistema UAB:
I - Oferecer, prioritariamente, cursos de licenciatura e de formação inicial e continuada de professores da educação básica; II - oferecer cursos superiores para capacitação de dirigentes, gestores e trabalhadores em educação básica dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios; III - oferecer cursos superiores nas diferentes áreas do conhecimento; IV - ampliar o acesso à educação superior pública; V - reduzir as desigualdades de oferta de ensino superior entre as diferentes regiões do País; VI - estabelecer amplo sistema nacional de educação superior a distância; e VII - fomentar o desenvolvimento institucional para a modalidade de educação a distância, bem como a pesquisa em metodologias inovadoras de ensino superior apoiadas em tecnologias de informação e comunicação.
Art. 2o  O Sistema UAB cumprirá suas finalidades e objetivos sócio-educacionais em regime de colaboração da União com entes federativos, mediante a oferta de cursos e programas de educação superior a distância por instituições públicas de ensino superior, em articulação com pólos de apoio presencial.
§ 1o  Para os fins deste Decreto, caracteriza-se o pólo de apoio presencial como unidade operacional para o desenvolvimento descentralizado de atividades pedagógicas e administrativas relativas aos cursos e programas ofertados a distância pelas instituições públicas de ensino superior.
§ 2o  Os pólos de apoio presencial deverão dispor de infra-estrutura e recursos humanos adequados às fases presenciais dos cursos e programas do Sistema UAB.

IV - CONSIDERAÇÕES FINAIS

           
            Foi possível perceber durante a realização da pesquisa solicitada, o quanto a sociedade e responsáveis dos setores da organização educacional brasileira em diferentes campos, vêm oferecer acesso à diferentes modalidades para a formação do indivíduo. Cabe ressaltar que devemos estar atentos não somente a quantidade, mas também a qualidade do ensino ofertado. Cada vez mais tornamos autônomos de nossa formação cultural, enquanto cidadãos.
Ao final deste trabalho pôde perceber que os dados pesquisados reforçam a idéia de que não há atualidade que não seja processo histórico, vinculada aos aspectos sociais, econômicos e políticos de cada época. Desta forma, toda atualidade nos apresenta de forma dinâmica e se nutre, entre outros valores, dos que se situam no passado do processo. Não que deva ser ela necessariamente o passado, o que seria a sua própria negação.
O uso de tecnologias, só têm a contribuir no processo ensino-aprendizagem nestes tempos em que o mundo está sendo dominado pela tecnologia, comunicação, globalização e pelo conhecimento, quando as organizações em educação, muito mais do que acumular conhecimentos deverão, cultivar os valores predominantes, permitir aos seus alunos, desenvolver o raciocínio, a criatividade, a imaginação, o espírito de iniciativa e o cooperativismo, o que poderá ser possível via Educação a Distância e a seus colaboradores, condições adequadas de trabalho, incentivo e preparação para aturem com eficiência e eficácia (FURQUIM  & GOMES,2010,p13).

Por isso mesmo, a atualidade do ser, neste caso, da expansão da Educação a Distância no Brasil e os termos legais que a embasam, bem como a própria história da Educação Brasileira, em caminho ou em busca de sua autenticidade, pela superação de sua aceitação, como outra modalidade de Educação que não seja a presencial, e que ofereça um ensino de qualidade equivalente ao do presencial, apresenta uma série de marcas do ontem, manifestadas no comportamento social, da sociedade, bem como das instituições de ensino, dos profissionais que nelas atuam e dos alunos que procuram os cursos ofertados.

V – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL/MEC. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, nº 9394, de 20 de dezembro de 1996.

____________. Dispõe sobre o Sistema  de Universidade Aberta do Brasil - UAB.Decreto nº 5.800 de 8 de junho de 2006. Brasília,2006.

____________.Plano Nacional de Educação.Brasília, 2001. Disponível no site:http://portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/pne.pdf em 22 de Agosto de 2011.

___________. Referenciais de Qualidade para a Educação a Distância.Brasília, 2007.

FURQUIM & GOMES,Leila Ap. V. e Rita de Cassia M. Os profissionais da Educação a Distância e o desenvolvimento de equipes de trabalho como motivação para o ensino aprendizagem em rede virtual. SP: Anhanguera Educacional. Anuário da Produção Acadêmica Docente-Edição Especial EAD.Vol4,nº08. ISSN1982-3169, 2010.

HAIDT,Regina Célia C. Curso de Didática Geral. SP:Ática, 2001.

MORAN, José Manuel …[et al]. Novas tecnologias e mediação pedagógica. Campinas, SP: Papirus, 2000.

SAVIANI, Dermeval. Escola e Democratização. 33ª edição. Campinas, SP: Autores Associados, 2000.

THOMÉ, Débora. Educação a Distância: tecnologia como aliada para a inclusão social. Disponível em: www.folhadirigida.com.br/ead. Acesso em 25 de novembro de 2011.

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Desafios da educação a distância no Brasil

José Manuel Moran


A educação a distância está se transformando, de uma modalidade complementar ou especial para situações específicas (cursos técnicos, educação de jovens e adultos), em referência para uma mudança profunda na educação como um todo. É uma opção importante para cursos de curta e longa duração, para os vários níveis de ensino, para a educação formal e informal, a educação continuada, a profissional, a corporativa.
Cresce a percepção de que um país do tamanho do Brasil só conseguirá superar sua defasagem educacional por meio do uso intensivo de tecnologias em rede, da flexibilização dos tempos e espaços de aprendizagem, e da gestão integrada de modelos presenciais e digitais. A educação a distância está modificando todas as formas de ensino e aprendizagem, inclusive as presenciais, que utilizarão cada vez mais metodologias semipresenciais, flexibilizando a necessidade de presença física, reorganizando os espaços e tempos, as mídias, as linguagens e os processos presenciais e digitais.
A EAD está associada há décadas no Brasil ao ensino técnico, à formação rápida de trabalhadores, ao ensino supletivo, a uma segunda oportunidade de aprender, a ensino para quem mora longe (democratização de acesso). O Brasil entrou no ensino superior a distância há pouco mais de dez anos, enquanto que a maior parte dos países já a pratica há mais de cinquenta. Mesmo assim, mais de um milhão de alunos, vinte por cento de todos os alunos de ensino superior, estudam a distância. Há um mercado inexplorado de milhões de adultos que não puderam estudar,
quando mais jovens, ou que agora podem fazê-lo ou precisam de um diploma por terem mudado de área profissional ou porque querem melhorar suas vidas.
A EAD é ainda pouco reconhecida, apoiada nas instituições superiores. Só dez por cento atua na modalidade a distância. Em muitas, a EAD não tem pouco poder, recursos e representatividade organizacional. Muitas áreas de
conhecimento, como as da saúde, confundem educação a distância com cursos só pelo computador e se posicionam contra, de uma forma simplista. É possível ter qualquer curso, em qualquer área, incluso a medicina com modelos parcialmente a distância. Ninguém imagina um curso na saúde, sem laboratórios e práticas. Mas isso não justifica um veto frontal à EAD. É contraditória a postura da Ordem dos Advogados do Brasil que veta praticamente a graduação a distância num curso que no presencial é oferecido oralmente, com poucos recursos. Por que não pode ser feito a distância, desde que o projeto seja consistente e com bons profissionais?.
Há Conselhos Federais de classe que criticam a EAD de uma forma generalizada e simplista. Eles têm razão quando criticam cursos a distância sem qualidade, como se fossem puramente a La carte, sem nenhum apoio de bons profissionais, mas afirmam nas entrelinhas que nenhum curso a distância possam equiparar-se aos presenciais.
As últimas avaliações desmentem a alegada diferença entre resultados dos alunos de curso presencias e a distância. Em média, os alunos de EAD se saem dois por cento melhor do que no presencial, no Enade, entre 2007 e 2009.
 
...Um país gigantesco como
o Brasil precisa de muitas mais
instituições que ofereçam todas
as opções possíveis de cursos
a distância, para poucos e para
muitos alunos...

Não é um resultado espetacular , mas mostra que é possível preparar alunos com qualidade. A divulgação desses dados de forma mais seguida contribuirá para diminuir o preconceito atual de uma parte da sociedade. Temos problemas no mestrado e doutorado, onde é muito difícil aprovar um programa a distância na Capes, com
exceção de dois tímidos mestrados profissionais em universidades públicas.
A EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA COMO OPÇÃO ESTRATÉGICA – Um país gigantesco como o Brasil precisa de muitas mais instituições que ofereçam todas as opções possíveis de cursos a distância, para poucos e para muitos alunos, com modelos mais ao vivo e outros gravados, com mais ou menos tutoria, dependendo do tipo de curso e de aluno.
A EAD é cada vez mais complexa, porque está crescendo em todos os campos, atendendo mais pessoas, com modelos diferentes, num cenário de dramáticas mudanças tecnológicas, de mobilidade e de processos.
Temos modelos de EAD de alta escalabilidade, com transmissão de aulas por satélite, que se expandem nacional e internacionalmente e atendem cada vez a mais alunos, em mais cidades, perto de onde eles estão. Desenvolvem cursos mais atualizados, com forte interação audiovisual, variedade de oferta e custos reduzidos. Este é o caminho escolhido por alguns grandes grupos e marcas, que detêm mais da metade de toda a demanda.
Temos a Educação a distância mais digital, na WEB, com mais apoio a distância e alguns momentos presenciais. Algumas instituições atendem a um público de maior poder aquisitivo e outras a um público de renda mais baixa.
A temos também para atendimento de segmentos específicos, regionais ou temáticos.
As instituições atuam em áreas com competência comprovada.
Focam públicos definidos. É a opção viável para a maior parte das instituições.
Um caminho possível e até agora não bem sucedido é o de participar de consórcios e parcerias. Já foi tentado várias vezes. É importante, mas não fácil de conseguir, depende de sinergia de valores e capacidade de gerenciar diferenças pessoais e institucionais. Só parcerias bem sucedidas podem enfrentar, a médio prazo, os grandes grupos que atuam nacionalmente.


...Os alunos querem
ser tratados de forma mais
individualizada. Caminhamos
de uma EAD mais industrial,
massiva, de produto pronto, igual
para todos, para modelos bem
mais fl exíveis...

O avanço impressionante de computadores e tablets está personalizando claramente o processo de aprendizagem. Não podemos dar o mesmo conteúdo e atividades para todos, no mesmo ritmo. Os alunos querem ser tratados de forma mais individualizada. Caminhamos de uma EAD mais industrial, massiva, de produto pronto, igual para todos, para modelos bem mais flexíveis, que combinam o melhor do percurso individual com momentos de aprendizagem em grupo, de colaboração intensa.As tecnologias WEB 2.0, gratuitas e colaborativas, facilitam a aprendizagem entre colegas, próximos e distantes. Tudo caminha para ser mais aberto, ágil, intuitivo (touchscreen ou telas sensíveis ao toque, como nos tablets). Falta no Brasil melhorar os preços destes equipamentos (essa perspectiva é próxima) e melhorar a banda larga (ainda falta muito).
A INTEGRAÇÃO ENTRE O PRESENCIAL E A DISTÂNCIA – Para que as instituições grandes e pequenas possam continuar no ensino superior, é importante que assumam o mesmo modelo de currículo e oferta no presencial e no EAD. Que elaborem um projeto estratégico único e integrado, que permita a sinergia entre equipes, metodologias, conteúdo, infraestrutura, marketing.
O caminho é o da convergência em todos os campos e áreas: prédios (EAD também dentro de unidades resenciais – pólos); integração de plataformas digitais; produção digital de conteúdo integrada (os mesmos materiais para as mesmas disciplinas do mesmo currículo).

...Os alunos poderão
escolher o modelo que mais lhes
convier, aprenderão mais e as
instituições poderão oferecer
um ensino de qualidade,
moderno e dinâmico, a um
custo competitivo...

Isso favorece a mobilidade de alunos e professores.
Alunos podem migrar de uma modalidade para outra sem problemas, podem fazer algumas disciplinas comuns – alunos a distância e presenciais cursando disciplinas comuns. Professores podem participar das duas modalidades e ter maior carga docente. Isso permite maior interoperabilidade de processos, pessoas, de produtos e metodologias, com grande escalabilidade, visibilidade e redução de custos. Os alunos poderão escolher o modelo que mais lhes convier, aprenderão mais e as instituições poderão oferecer um ensino de qualidade, moderno e dinâmico, a um custo competitivo.
O sistema bi-modal, semi-presencial – parte presencial e parte a distância – se mostra o mais promissor para o ensino nos diversos níveis. Combina o melhor da presença física com situações em que a distância pode ser mais útil, na relação custo-benefício. Nos cursos presenciais poderíamos flexibilizar a relação presencial-digital de forma  progressiva. No primeiro ano, as atividades aconteceriam mais na sala de aula. Haveria uma ênfase maior na aprendizagem do uso das tecnologias digitais feito no laboratório até o aluno ter o domínio do virtual e poder fazê-lo a distância.
Vale a pena rediscutir o limite de 20% de disciplinas online, imposto pelo MEC. Por que 20 e não 30 ou 50? As instituições poderiam flexibilizar seus currículos até chegar a uma carga horária média de 50% para aulas presenciais e50% a distância. Cada instituição terá de definir qual é o ponto de equilíbrio entre o presencial e o virtual, de acordo com cada área do conhecimento.
Isso porque há disciplinas que necessitam mais da presença física, como as que utilizam laboratório ou interação corporal (dança, teatro etc.). O importante é experimentar várias soluções nos diversos cursos.
Sem esse balanceamento, a educação não conseguirá avançar no ritmo necessário para acompanhar a progressiva complexificação da sociedade e das aceleradas mudanças que todos experimentamos. Em todos os currículos, as disciplinas mais centradas no conteúdo podem ser semi-presenciais. Só as de laboratório, de práticas podem ser mais presenciais e, mesmo essas, podem ser pensadas de forma diferente (laboratórios digitais, integrados, ao menos parcialmente).
A conjugação de inovação e redução de custos é poderosa e possível. As instituições que implantam um modelo, que equilibre economia com inovação, serão vencedoras e avançarão muito mais rapidamente do que as que continuem repetindo, ano após ano, o mesmo modelo convencional ultrapassado.
Encontramo-nos no meio de muitas mudanças, em uma fase em que temos que repensar a educação como um
todo, em todos os níveis e a legislação da educação a distância é bastante detalhista e restritiva.
Precisamos ter sensibilidade legal para evitar uma asfixia burocrática numa fase de grandes mudanças, e ao mesmo tempo sinalizar alguns limites para cada momento histórico. Estamos numa área onde conceitos como o de espaço, tempo, presença (física/virtual) são muito mais complexos e que exigem uma atenção redobrada para superar modelos convencionais, que costumam servir como parâmetro para avaliar situações novas.¹

*Diretor de Educação a Distância da Universidade Anhanguera - Uniderp
¹ Estes temas são mais aprofundados nos meus livros A educação que desejamos: novos desafios e como chegar lá da Papirus Editorial (5ª ed, 2011) e em Educação a Distância: Pontos e Contrapontos (Summus Editorial, 2011).
Tem mais textos sobre o tema nas minhas páginas web: https://sites.google.com/a/aesapar.com/moran/ e www.eca.usp.br/prof/moran


Acesso em: 19/08/2012

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Vídeo: Educação a Distância e seus Processos Cognitivos.

Neste vídeo vemos a Educação a Distância e seus Processos Cognitivos.

Mostra a relação entre a intermediação digital virtual para aprendizagem e aspectos da cognição humana.



Apresentado pela Professora Susane Garrido

Disponível em: http://vimeo.com/21242317
Acesso em: 15/08/2012



sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Por que a Educação a Distância avança menos do que o esperado?

Disponível em: http://moran10.blogspot.com.br/
Acesso em: 10/08/2012 



José Manuel Moran


Algumas razões mais evidentes

A EAD está associada há décadas no Brasil ao ensino técnico, à formação rápida de trabalhadores, ao ensino supletivo, a uma segunda oportunidade, a ensino para quem mora longe (democratização de acesso). Ela tem pouco tempo de vida no ensino superior, pouco mais de uma década. É pouco conhecida, um pouco marginalizada nas estruturas universitárias presenciais e também atende a um público, em geral, de menor poder aquisitivo. 

Predomina a EAD também para os outros, para os pobres, para os distantes, para os que não fizeram a graduação no tempo devido.
Para piorar as coisas, algumas instituições desenvolveram uma EAD de qualidade duvidosa, só preocupados em conquistar mercado, cortar custos e ganhar escala. Algumas cresceram muito mais a distância do que no presencial. Isso assustou muita gente, já descrente da modalidade.

Há um preconceito muito arraigado em setores influentes da sociedade. Algumas áreas reduzem a EAD à cursos pela Internet e descartam, através de suas associações de classe, que seja uma alternativa real para os alunos.

Outra razão para a resistência de muitos a essa modalidade é que continuamente é vendida como uma alternativa mais barata, mais acessível para todos do que o presencial. Diminuem as reuniões, as pessoas viajam menos, ficam mais nos seus lugares. Cortar custos não pode ser o principal argumento educacional. É importante para os mantenedores e gestores. A pergunta importante é: podemos aprender da mesma forma ou melhor, estando menos tempo fisicamente juntos, sem a presença contínua do professor? E os educadores não temos dedicado tempo e energia para responder a estas questões.

Razões menos conhecidas

Muitos professores e alunos não se adaptam à modalidade. Sim, professores também. Muitos pensam que basta reproduzir as técnicas praticadas no presencial e já estão prontos. Demoram para adquirir a competência de gerenciar fóruns, atividades digitais, de serem proativos com alunos silenciosos. Da mesma forma, muitos alunos não estão preparados para gerenciar suas atividades em tempos flexíveis, sem supervisão direta. Muitos alunos estão acostumados a terem professores como apoio visível, a seguir ordens, a esperar tudo pronto e só executar ordens.

Muitos alunos vêm de escolas pouco exigentes, e não desenvolveram sua autonomia intelectual nem digital. Entrar em ambientes virtuais silenciosos, cheios de materiais e ferramentas, os deixa confusos. A falta de conversa com pessoas reais, ao vivo, os assusta. O ambiente digital para quem não está acostumado é confuso, distante, pouco intuitivo e agradável. Jogar alunos mal preparados diretamente em um ambiente virtual é muito radical, distante das vivências pedagógicas passadas.

Uma das principais razões de ir a universidade ou a escola é social, encontrar pessoas, fazer amigos, sentir-se parte de um grupo. Boa parte dos cursos de EAD não consegue recriar o ambiente de grupo, criar vínculos, que os alunos se conheçam e conversem entre si. Os alunos viram tarefeiros, em prazos curtos, e os orientadores também estão cheios de atividades repetitivas de acompanhamento e avaliação, com grande quantidade de alunos e precárias condições profissionais.

Muitos cursos são previsíveis, com informação simplificada, conteúdo raso e poucas atividades estimulantes e em ambientes virtuais pobres, banais. Focam mais o conteúdo do que metodologias ativas como desafios, jogos, projetos. Alguns materiais são inferiores aos que são exigidos em cursos presenciais.

Há uma percepção em parte dos gestores e mantenedores de que fazer EAD é algo simples, barato e que pode ser feito com recursos mínimos. Contratam pessoas com pouca experiência, remuneram-nos mal e os sobrecarregam de atividades e de alunos. Uma categoria pouco reconhecida é a dos tutores, que costumam atender um número grande de estudantes, com o pretexto de que têm pouco trabalho. Muitos não possuem uma formação específica em EAD e recebem uma remuneração insuficiente.

Ainda há uma separação em muitas instituições entre a modalidade presencial e a distância. As equipes são diferentes, os currículos não estão integrados, os investimentos maiores são feitos no presencial. Falta visão estratégica a muitos gestores. O caminho é o da convergência em todos os campos e áreas: prédios (EAD também dentro de unidades presenciais – pólos); integração de plataformas digitais; produção digital de conteúdo integrada (os mesmos materiais para as mesmas disciplinas do mesmo currículo).

Isso favorece a mobilidade de alunos e professores. Alunos podem migrar de uma modalidade para outra sem problemas, podem fazer algumas disciplinas comuns – alunos a distância e presenciais cursando disciplinas comuns. Professores podem participar das duas modalidades e ter maior carga docente. Isso permite maior interoperabilidade de processos, pessoas, de produtos e metodologias, com grande escalabilidade, visibilidade e redução de custos.  Os alunos poderão escolher o modelo que mais lhes convier, aprenderão mais e as instituições poderão oferecer um ensino de qualidade, moderno e dinâmico, a um custo competitivo.
________________________________________
Texto revisto do meu livro Educação a Distância: pontos e contrapontos. SP: Summus Editorial, p.111-115.

Os novos espaços de atuação do educador com as tecnologias

Disponível em: http://www.eca.usp.br/moran/espacos.htm
Acesso em: 10/08/2012

 Especialista em mudanças na educação presencial e a distância
Autor do livro: A educação que desejamos novos desafios e como chegar lá. Campinas: Papirus, 2007.
Texto publicado nos anais do 12º Endipe – Encontro Nacional de Didática e Prática de Ensino, in ROMANOWSKI, Joana Paulin et al (Orgs). Conhecimento local e conhecimento universal: Diversidade, mídias e tecnologias na educação. vol 2, Curitiba, Champagnat, 2004, páginas 245-253 - jmmoran@usp.br
Resumo
 A Internet e as novas tecnologias estão trazendo novos desafios pedagógicos para as universidades e escolas. Os professores, em qualquer curso presencial, precisam aprender a gerenciar vários espaços e a integrá-los de forma aberta, equilibrada e inovadora. O primeiro espaço é o de uma nova sala de aula melhor equipada e com atividades diferentes. Em alguns momentos o professor leva seus alunos ao laboratório conectado à Internet para desenvolver atividades de pesquisa e de domínio das tecnologias (segundo espaço). Estas atividades se ampliam a distância, nos ambientes virtuais de aprendizagem conectados à Internet, o que permite diminuir o número de aulas e continuar aprendendo juntos a distância (terceiro espaço). Os cursos precisam prever espaços e tempos de contato com a realidade, de experimentação e de inserção em ambientes profissionais e informais em todas as matérias e ao longo de todos os anos (quarto espaço). Uma das tarefas mais importantes das universidades, escolas e secretarias de educação hoje é planejar e flexibilizar, no currículo de cada curso, o tempo de presença física em sala de aula e o tempo de aprendizagem virtual e como integrar de forma criativa e inovadora esses espaços e tempos.
 Palavras-chave: Novas tecnologias, educação, ensino superior, didática

Introdução

Uma das reclamações generalizadas de escolas e universidades é de que os alunos não agüentam mais nossa forma de dar aula. Os alunos reclamam do tédio de ficar ouvindo um professor falando na frente por horas, da rigidez dos horários, da distância entre o conteúdo das aulas e a vida.
Colocamos tecnologias na universidade e nas escolas, mas, em geral, para continuar fazendo o de sempre – o professor falando e o aluno ouvindo – com um verniz de modernidade. As tecnologias são utilizadas mais para ilustrar o conteúdo do professor do que para criar novos desafios didáticos.
O cinema, o rádio, a televisão trouxeram desafios, novos conteúdos, histórias, linguagens. Esperavam-se muitas mudanças na educação, mas as mídias sempre foram incorporadas marginalmente. A aula continuou predominantemente oral e escrita, com pitadas de audiovisual, como ilustração. Alguns professores utilizavam vídeos, filmes, em geral como ilustração do conteúdo, como complemento. Eles não modificavam substancialmente o ensinar e o aprender, davam um verniz de novidade, de mudança, mas era mais na embalagem.
O computador trouxe uma série de novidades, de fazer mais rápido, mais fácil. Mas durante anos continuo sendo utilizado mais como uma ferramenta de apoio ao professor e ao aluno. As atividades principais ainda estavam focadas na fala do professor e na relação com os textos escritos.
Hoje, com a Internet e a fantástica evolução tecnológica, podemos aprender de muitas formas, em lugares diferentes, de formas diferentes. A sociedade como um todo é um espaço privilegiado de aprendizagem. Mas ainda é a escola a organizadora e certificadora principal do processo de ensino-aprendizagem.
Ensinar e aprender estão sendo desafiados como nunca antes. Há informações demais, múltiplas fontes, visões diferentes de mundo. Educar hoje é mais complexo porque a sociedade também é mais complexa e também o são as competências necessárias. As tecnologias começam a estar um pouco mais ao alcance do estudante e do professor. Precisamos repensar todo o processo, reaprender a ensinar, a estar com os alunos, a orientar atividades, a definir o que vale a pena fazer para aprender, juntos ou separados.
Com a Internet e outras tecnologias surgem novas possibilidades de organização das aulas dentro e fora da Universidade. Podemos ter uma parte das aulas de forma virtual ou freqüentar cursos a distância. Como uma universidade e seus professores podem se organizar para  estas mudanças inevitáveis, da forma mais adequada, equilibrada e coerente? Por onde começar e continuar?
  

A ampliação dos espaços de ensino-aprendizagem

 A sala de aula é o espaço privilegiado quando pensamos em escola, em aprendizagem. Esta nos remete a um professor na nossa frente, a muitos alunos sentados em cadeiras olhando para o professor, uma mesa, um quadro negro e, às vezes, um vídeo ou computador.
Com a Internet e as redes de comunicação em tempo real, surgem novos espaços importantes para o processo de ensino-aprendizagem, que modificam e ampliam o que fazíamos na sala de aula.
Abrem-se novos campos na educação on-line, através da Internet, principalmente na educação a distância.  Mas também na educação presencial a chegada da Internet está trazendo novos desafios para a sala de aula, tanto tecnológicos como pedagógicos.
O professor, em qualquer curso presencial, precisa hoje aprender a gerenciar vários espaços e a integrá-los de forma aberta, equilibrada e inovadora. O primeiro espaço é o de uma nova sala de aula equipada e com atividades diferentes, que se integra com a ida ao laboratório para desenvolver atividades de pesquisa e de domínio técnico-pedagógico. Estas atividades se ampliam e complementam a distância, nos ambientes virtuais de aprendizagem e se complementam com espaços e tempos de experimentação, de conhecimento da realidade, de inserção em ambientes profissionais e informais.
Antes o professor só se preocupava com o aluno em sala de aula. Agora, continua com o aluno no laboratório (organizando a pesquisa), na Internet (atividades a distância) e no acompanhamento das práticas, dos projetos, das experiências que ligam o aluno à realidade, à sua profissão (ponto entre a teoria e a prática).
Antes o professor se restringia ao espaço da sala de aula. Agora precisa aprender a gerenciar também atividades a distância, visitas técnicas, orientação de projetos e tudo isso fazendo parte da carga horária da sua disciplina, estando visível na grade curricular, flexibilizando o tempo de estada em aula e incrementando outros espaços e tempos de aprendizagem.
Educar com qualidade implica em ter acesso e competência para organizar e gerenciar as atividades didáticas em, pelo menos, quatro espaços:


1. Uma nova sala de aula


A sala de aula será, cada vez mais, um ponto de partida e de chegada, um espaço importante, mas que se combina com outros espaços para ampliar as possibilidades de atividades de aprendizagem.
O que deve ter uma sala de aula para uma educação de qualidade?
Precisa fundamentalmente de professores bem preparados, motivados, e bem remunerados e com formação pedagógica atualizada. Isso é incontestável.
Precisa também de salas confortáveis, com boa acústica e tecnologias, das simples até as sofisticadas. Uma sala de aula hoje precisa ter acesso fácil ao vídeo, DVD e, no mínimo, um ponto de Internet, para acesso a sites em tempo real pelo professor ou pelos alunos, quando necessário.
Um computador em sala com projetor multimídia são recursos necessários, embora ainda caros, para oferecer condições dignas de pesquisa e apresentação de trabalhos a professores e alunos. São poucos os cursos até agora bem equipados, mas, se queremos educação de qualidade, uma boa infra-estrutura torna-se cada vez mais necessária. 
Um projetor multimídia com acesso a Internet permite que o professores e alunos mostrem simulações virtuais, vídeos, jogos, materiais em CD, DVD, páginas WEB ao vivo. Serve como apoio ao professor, mas também para a visualização de trabalhos dos alunos, de pesquisas, de atividades realizadas no ambiente virtual de aprendizagem (um fórum previamente realizado, por exemplo). Podem ser mostrados jornais on-line, com notícias relacionadas com o assunto que está sendo tratado em classe. Os alunos podem contribuir com suas próprias pesquisas on-line. Há um campo de possibilidades didáticas até agora pouco desenvolvidas, mesmo nas salas que detêm esses equipamentos.
Essa infra-estrutura deve estar a serviço de mudanças na postura do professor, passando de ser uma “babá”, de dar tudo pronto, mastigado, para ajudá-lo, de um lado, na organização do caos informativo, na gestão das contradições dos valores e visões de mundo, enquanto, do outro lado, o professor provoca o aluno, o “desorganiza”, o desinstala, o estimula a mudanças, a não permanecer acomodado na primeira síntese.
Do ponto de vista metodológico o professor precisa aprender a equilibrar processos de organização e de “provocação” na sala de aula. Uma das dimensões fundamentais do educar é ajudar a encontrar uma lógica dentro do caos de informações que temos, organizar numa síntese coerente (mesmo que momentânea) das informações dentro de uma área de conhecimento. Compreender é organizar, sistematizar, comparar, avaliar, contextualizar. Uma segunda dimensão pedagógica procura questionar essa compreensão, criar uma tensão para superá-la, para modificá-la, para avançar para novas sínteses, novos momentos e formas de compreensão. Para isso o professor precisa questionar, tensionar, provocar o nível da compreensão existente.
Predomina a organização no planejamento didático quando o professor trabalha com esquemas, aulas expositivas, apostilas, avaliação tradicional. O professor que dá tudo mastigado para o aluno, de um lado facilita a compreensão; mas, por outro, transfere para o aluno, como um pacote pronto, o nível de conhecimento de mundo que ele tem.
Predomina a “desorganização” no planejamento didático quando o professor trabalha encima de experiências, projetos, novos olhares de terceiros: artistas, escritores...
Em qualquer área de conhecimento podemos transitar entre a organização da aprendizagem e a busca de novos desafios, sínteses. Há atividades que facilitam a organização e outras a superação. O relato de experiências diferentes das do grupo, uma entrevista polêmica podem desencadear novas questões, expectativas, desejos. Mas também há relatos de experiências ou entrevistas que servem para confirmar nossas idéias, nossas sínteses, para reforçar o que já conhecemos.
Por exemplo, na utilização do vídeo na escola, vejo dois momentos ou focos que podem alternar-se e combinar-se equilibradamente:
1)     Quando o vídeo provoca, sacode, provoca inquietação e  serve como abertura para um tema, como uma sacudida para a nossa inércia. Ele age como tensionador, na busca de novos posicionamentos, olhares, sentimentos, idéias e valores. O contato de professores e alunos com bons filmes, poesias, contos, romances, histórias, pinturas alimenta o questionamento de pontos de vista formados, abre novas perspectivas de interpretação, de olhar, de perceber, sentir e de avaliar com mais profundidade.
2)    Quando o vídeo serve para confirmar uma teoria, uma síntese, um olhar específico com o qual já estamos trabalhando. É o vídeo que ilustra, amplia, exemplifica.

O vídeo e as outras tecnologias tanto podem ser utilizados para organizar como para desorganizar o conhecimento. Depende de como e quando os utilizamos.

Educar um processo dialético, quando bem realizado, mas que, em muitas situações concretas, se vê diluído pelo peso da organização, da massificação, da burocratização, da “rotinização”, que freia o impulso questionador, superador, inovador.


Um dia todas as salas de aula estarão conectadas às redes de comunicação instantânea. Como isso ainda está distante, é importante que cada professor programe em uma de suas primeiras aulas uma visita com os alunos ao “laboratório de informática”, a uma sala de aula com micros suficientes conectados à Internet. Nessa aula (uma ou duas) o professor pode orientá-los a fazer pesquisa na Internet, a encontrar os materiais mais significativos para a área de conhecimento que ele vai trabalhar com os alunos; a que aprendam a distinguir informações relevantes de informações sem referência. Ensinar a pesquisar na WEB ajuda muito aos alunos na realização de atividades virtuais depois, a sentir-se seguros na pesquisa individual e grupal.
 Uma outra atividade importante nesse momento é a capacitação para o uso das tecnologias necessárias para acompanhar o curso em seus momentos virtuais: conhecer a plataforma virtual, as ferramentas, como se coloca material, como se enviam atividades, como se participa num fórum, num chat, tirar dúvidas técnicas. Esse contato com o laboratório é fundamental porque há alunos pouco familiarizados com essas novas tecnologias e para que todos tenham uma informação comum sobre as ferramentas, sobre como pesquisar e sobre os materiais virtuais do curso.
Tudo isto pressupõe que os professores foram capacitados antes para fazer esse trabalho didático com os alunos no laboratório e nos ambientes virtuais de aprendizagem (o que muitas vezes não acontece).

Quando temos um curso parcialmente presencial podemos organizar os encontros ao vivo como pontuadores de momentos marcantes. Primeiro, nos encontramos fisicamente para facilitar o conhecimento mútuo de professores e alunos. Ao vivo é muito mais fácil que a distância e confiamos mais rapidamente ao estar ao lado da pessoa como um todo, ao vê-la, ouvi-la, senti-la. Depois, é mais fácil explicar e organizar o processo de aprendizagem, esclarecer, tirar dúvidas, organizar grupos, discutir propostas. É muito mais fácil também aprender a utilizar os ambientes tecnológicos da educação on-line. Podemos ir a um laboratório e nivelar os alunos, os que sabem se sentam junto com os que sabem menos e todos aprendem juntos. No presencial também é mais fácil motivar os alunos, atender às demandas específicas, fazer os ajustes necessários no programa.
O foco do curso deve ser o desenvolvimento de pesquisa, fazer do aluno um parceiro-pesquisador. Pesquisar de todas as formas, utilizando todas as mídias, todas as fontes, todas as formas de interação. Pesquisar às vezes todos juntos, outras em pequenos grupos, outras individualmente. Pesquisar às vezes na escola; outras, em outros espaços e tempos. Combinar pesquisa presencial e virtual. Comunicar os resultados da pesquisa para todos e para o professor. Relacionar os resultados, compará-los, contextualizá-los, aprofundá-los, sintetizá-los.
Mais tarde, depois de uma primeira etapa de aprendizagem on-line, a volta ao presencial adquire uma outra dimensão. É um reencontro tanto intelectual como afetivo. Já nos conhecemos, mas fortalecemos esses vínculos; trocamos experiências, vivências, pesquisas. Aprendemos juntos, tiramos dúvidas coletivas, avaliamos o processo virtual. Fazemos novos ajustes. Explicamos o que acontecerá na próxima etapa e motivamos os alunos para que continuem pesquisando, se encontrando virtualmente, contribuindo.
Os próximos encontros presenciais já devem trazer maiores contribuições dos alunos, dos resultados de pesquisas, de projetos, de solução de problemas, entre outras formas de avaliação.

 

3. A utilização de ambientes virtuais de aprendizagem

Os alunos já se conhecem, já tem as informações básicas de como pesquisar e de como utilizar os ambientes virtuais de aprendizagem. Agora já podem iniciar a parte a distância do curso, combinando momentos em sala de aula com atividades de pesquisa, comunicação e produção a distância, individuais, em pequenos grupos e todos juntos.
O professor precisa hoje adquirir a competência da gestão dos tempos a distância combinado com o presencial. O que vale a pena fazer pela Internet que ajuda a melhorar a aprendizagem, que mantém a motivação, que traz novas experiências para a classe, que enriquece o repertório do grupo.
Os ambientes virtuais aqui complementam o que fazemos em sala de aula. O professor e os alunos são “liberados” de algumas aulas presenciais e precisam aprender a gerenciar classes virtuais, a organizar atividades que se encaixem em cada momento do processo e que dialoguem e complementem o que estamos fazendo na sala de aula e no laboratório. Começamos algumas atividades na sala de aula: informações básicas de um tema, organização de grupos, explicitar os objetivos da pesquisa, tirar as dúvidas iniciais. Depois vamos para a Internet e orientamos e acompanhamos as pesquisas que os alunos realizam individualmente ou em pequenos grupos. Pedimos que os alunos coloquem os resultados em uma página, um portfólio ou que nos as enviem virtualmente, dependendo da orientação dada. Colocamos um tema relevante para discussão no fórum ou numa lista e procuramos acompanhá-la sem sermos centralizadores nem omissos. Os alunos se posicionam primeiro e, depois, fazemos alguns comentários mais gerais, incentivamos, reorientamos algum tema que pareça prioritário, fazemos sínteses provisórias do andamento das discussões ou pedimos que alguns alunos o façam.
Podemos convidar um colega, um pesquisador ou um especialista para um debate com os alunos num chat, realizando uma entrevista a distância, atuando como mediadores. Os alunos gostam de participar deste tipo de atividade.
Nós mesmos, professores, podemos marcar alguns tempos de atendimento semanais, se o acharmos conveniente, para tirar dúvidas on-line, para atender grupos, acompanhar o que está sendo feito pelos alunos. Sempre que possível incentivaremos os alunos a que criem seu portfólio, seu espaço virtual de aprendizagem próprio e que disponibilizem o acesso aos colegas, como forma de aprender colaborativamente.
Dependendo do número de horas virtuais, a integração com o presencial é mais fácil, Um tópico discutido no fórum pode ser aprofundado na volta à sala de aula, tornando mais claros os pontos de divergência que havia no virtual.
Creio que há três campos importantes para as atividades virtuais: o da pesquisa, o da comunicação e o da produção. Pesquisa individual de temas, experiências, projetos, textos. Comunicação, realizando debates off e on-line sobre esses temas e experiências pesquisados. Produção, divulgando os resultados no formato multimídia, hipertextual, “linkada” e publicando os resultados para os colegas e, eventualmente, para a comunidade externa ao curso.
A Internet favorece a construção colaborativa, o trabalho conjunto entre professores e alunos, próximos física ou virtualmente. Podemos participar de uma pesquisa em tempo real, de um projeto entre vários grupos, de uma investigação sobre um problema de atualidade. O importante é combinar o que podemos fazer melhor em sala de aula: conhecer-nos, motivar-nos, reencontrar-nos, com o que podemos fazer a distância pela lista, fórum ou chat – pesquisar, comunicar-nos e divulgar as produções dos professores e dos alunos.
É fundamental hoje pensar o currículo de cada curso como um todo, e planejar o tempo de presença física em sala de aula e o tempo de aprendizagem virtual. A maior parte das disciplinas pode utilizar parcialmente atividades a distância. Algumas que exigem menos laboratório ou estar juntos fisicamente podem ter uma carga maior de atividades e tempo virtuais. A flexibilização de gestão de tempo, espaços e atividades é necessária, principalmente no ensino superior ainda tão engessado, burocratizado e confinado à monotonia da fala do professor num único espaço que é o da sala de aula.

Os cursos de formação, os de longa duração, como os de graduação, precisam ampliar o conceito de integração de reflexão e ação, teoria e prática, sem confinar essa integração somente ao estágio, no fim do curso. Todo o currículo pode ser pensando em inserir os alunos em ambientes próximos da realidade que ele estuda, para que possam sentir na prática o que aprendem na teoria e trazer experiências, cases, projetos do cotidiano para a sala de aula. Em algumas áreas, como administração, engenharia, parece mais fácil e evidente essa relação, mas é importante que aconteça em todos os cursos e em todas as etapas do processo de aprendizagem, levando em consideração as peculiaridades de cada um.
Se os alunos fazem pontes entre o que aprendem intelectualmente e as situações reais, experimentais, profissionais ligadas aos seus estudos, a aprendizagem será mais significativa, viva, enriquecedora. As universidades e os professores precisam organizar nos seus currículos e cursos atividades integradoras da prática com a teoria, do compreender com o vivenciar, o fazer e o refletir, de forma sistemática, presencial e virtualmente, em todas as áreas e ao longo de todo o curso.

A Internet e as novas tecnologias estão trazendo novos desafios pedagógicos para as universidades e escolas. Os professores, em qualquer curso presencial, precisam aprender a gerenciar vários espaços e a integrá-los de forma aberta, equilibrada e inovadora. O primeiro espaço é o de uma nova sala de aula equipada e com atividades diferentes, que se integra com a ida ao laboratório conectado em rede para desenvolver atividades de pesquisa e de domínio técnico-pedagógico. Estas atividades se ampliam a distância, nos ambientes virtuais de aprendizagem conectados à Internet e se complementam com espaços e tempos de experimentação, de conhecimento da realidade, de inserção em ambientes profissionais e informais.
 É fundamental hoje planejar e flexibilizar, no currículo de cada curso, o tempo e as atividades de presença física em sala de aula e o tempo e as atividades de aprendizagem conectadas, a distância. Só assim avançaremos de verdade e poderemos falar de qualidade na educação e de uma nova didática.

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